Avenida Paulista


Vera Spinola

Vagueando pela Avenida Paulista, em companhia da neta Isabel, então aos oito anos de idade, deparei-me com uma exposição no Museu de Arte de São Paulo (MASP), “Passagens por Paris: Arte Moderna na Capital do Século XIX”. Não queria entrar no museu. Então fizemos um trato, escolheria a próxima visita.
A mostra era inspirada no texto “Paris Capital do Século XIX”, de autoria de Walter Benjamin. Para uma rápida leitura do ensaio, acessei o celular.
Atraída pelo quadro “O Conforto Moderno dos Objetos”, pintado por Edouard Vuillard (França/1920), associei-o às Fantasmagorias da Modernidade, expressão cunhada por Benjamin no referido ensaio.
Representava a sala da princesa de Bibesco com um oceano de coisas no qual a mulher retratada se tornara apenas um objeto a mais. Uma exaltação ou uma crítica ao consumo?
Tentei esclarecer em linguagem simples de que não era bom se ter muita coisa. Tal como o quarto da princesa, o dela era um oceano de brinquedos.
Examinou a pintura, e não encontrou o celular da Bibesco. Comentou que a vida daquela moça deveria ser muito chata sem um celular.
Em seguida, paramos diante da pintura Os Sete Velhos, inspirada em um poema de Baudelaire, que poderia representar a Fantasmagoria Angustiante, expressão também utilizada por Benjamin.
Chamei à atenção de ser possível entender a desigualdade no ter coisas, no consumo, comparando as duas telas.
Saindo do MASP, na barulhenta e movimentada Avenida Paulista, cheirando gás carbônico, Isabel comentou: “Vovó, aqueles homens parecem com os velhos do quadro”.
Retruquei: “E aquelas mulheres com a princesa de Bibesco”.
Um século depois, só a desigualdade não havia mudado.
Fomos então ao Macdonald
Crônica por Vera Spínola, 08/10/23.












voltar

Vera Spinola

E-mail: veramaria737@gmail.com

Clique aqui para seguir este escritor


Site desenvolvido pela Editora Metamorfose