Vera Spinola
Numa manhã de sexta acordei às cinco e meia na expectativa de um longo e belo dia. Admirava a alvorada, sentia a carícia da brisa nas primeiras horas e o ar perfumado de mato molhado. Entrei em estado de meditação por vinte minutos. Ouvia minha respiração em harmonia com o canto dos pássaros.
Fui à academia fazer os exercícios matinais. Levei o celular e o fone de ouvido a fim de escutar as primeiras notícias. Mas o som do ambiente quebrou a epifania em que me encontrava. Era um baticum repetitivo. Nem com o fone de ouvido conseguia escutar o noticiário. No spotfy, escolhi então uma música lenta, mas o baticum, que chamam de música, invadiu meus ouvidos. Sugeri à gerência da academia que tocassem jazz às sextas feiras. Sugestão não acatada. Será que sabem o que é jazz?
No final do dia fomos, meu marido e eu, à Feira da Fraternidade, no nosso bairro, onde todo ano se expõem barracas representando diferentes países servindo comidas típicas. Depois de saborear uma paella espanhola, tive a alegria de encontrar uma conhecida que não via há muito tempo, Vera Suassuna. Tentei conversar com ela, mas o som em altíssimo volume, não permitia.
O baticum me perseguia.
Continuamos caminhando pela feira e encontramos um amigo de nosso filho que parecia muito animado: “Minha tia, veja que .......al”. Não ouvi bem o que ele havia falado e disse-lhe “O que? som infernal?”, ao que ele falou berrando “eu disse banda genial minha tia”.
Lembrei duas vezes do escritor Ariano Suassuna. Primeiro quando encontrei a sobrinha dele, Vera. Depois ao recordar sua frase, dita em uma palestra, quando comentou sobre um artigo de jornal, no qual o articulista afirmava que Chimbinha da extinta banda Calypso, era um guitarrista genial: “Se você gasta o adjetivo genial com o Chimbinha, o que eu vou dizer do Bethoven?”